As favoritas da Bolsa para 2021, segundo 6 gestores de ações 05/01/2021

Ações que saíram como perdedoras da crise, como do setor de consumo e industrial, aparecem entre as principais apostas para o ano; destaque também para os papéis de commodities, frigoríficos e elétricas.

Depois da alta de 26,7% do Ibovespa nos últimos dois meses de 2020, que levou o índice a fechar o ano passado no positivo, o mercado acredita que parte do cenário mais promissor para uma recuperação da economia, diante de perspectivas com início de campanhas de vacinação, já esteja em parte precificado. No entanto, os juros em patamares ainda baixos e excesso de liquidez no mundo devem manter o apetite ao risco dos investidores em níveis elevados, dando espaço adicional para mais ganhos dos papéis brasileiros, apontam seis gestores de ações em entrevista à EXAME Invest.

No geral, os gestores da Moat Capital, Fator Administração de Recursos, MOS Capital, Athena Capital, HIX Capital e Neo Investimentos, consultados pela reportagem, veem um cenário positivo para Bolsa, principalmente para “stock picking” (seleção de ativos com potencial de superar a média do mercado), acreditando que algumas ações que saíram como perdedoras da crise estão muito descontadas, como empresas dos setores de consumo e industrial. Todas as seis casas citaram pelo menos uma ação de um desses dois setores como aposta para 2021.

Por outro lado, como não descartam possibilidade de volatilidade adicional neste início de ano, papéis ligados a commodities, como mineração e siderurgia, que ganham com o dólar e preço do minério e aço em alta, e/ou de frigoríficos, diante da forte demanda da China por carne bovina, também apareceram como alternativas interessantes em 3 dos portfólios.

Ainda entre as teses mais mencionadas, três gestores apontaram oportunidades em elétricas. Embora não tenham sido nem prejudicadas nem beneficiadas pela pandemia, os papéis desse setor sofreram forte desvalorização no auge da crise, mas não participaram da recuperação do mercado e agora estão em ponto atrativo de preços, comentaram, além de serem favorecidos por um cenário de juros baixos.

Fernando Fanchin, sócio e gestor da MOS Capital

Estamos mais para indiferente em relação à Bolsa do que otimista ou pessimista.

Já estivemos mais conservadores em agosto, depois que o mercado se recuperou de uma forma muito rápida dos patamares de março e abril. Naquele momento, estávamos mais cautelosos também porque não víamos uma visibilidade de retomada econômica e vacinas. Agora, com vacinas, entendemos que vamos ter um ano de mais normalidade pela frente, o que vai produzir resultados melhores para a maior parte das empresas. No entanto, o mercado já se ajustou a essa realidade, boa parte por conta da forte entrada de fluxo estrangeiro nos últimos meses na B3.

Não achamos que o valuation esteja tão atrativo, até porque se avaliarmos a situação das contas públicas, com a inflação podendo incomodar este ano, falta de reformas, essas são questões que nos deixam menos otimistas em relação ao cenário pela frente. Ainda assim, os investidores brasileiros estão sem alternativas. Isso ficou claro na crise, com locais bem resilientes porque o custo de oportunidade baixou muito no país. O investidor não tem muito para onde correr e vai para Bolsa.

Estamos com uma visão mais neutra para o mercado, vendo uma certa acomodação nos preços.

Falando sobre alocação de capital, não trocamos muito de ações na carteira. Se temos uma determinada empresa com boas perspectivas e valuation atrativo, aumentamos a alocação. Se achamos que as condições pioraram, diminuímos. Somos mais ativos no tamanho do que nas posições

Dito isso, dos 12 papéis em carteira atualmente, nossa principal posição é Rumo (RAIL3), com 12% do peso do portfólio. Temos alta convicção na ação. A empresa, que aparece como a melhor alternativa para escoar grãos para exportação do Mato Grosso, teve um ano difícil, por conta da queda do preço do diesel, que fez com que perdesse espaço para os caminhões. No entanto, ela tem uma excelente posição competitiva e de reação, até por conta dos seus controladores, o grupo Cosan, e já está se mexendo.

Além disso, vemos a ação negociando a IPCA mais 8% a 9%, enquanto títulos do governo para prazos equivalentes oferecem IPCA mais 4%. Achamos que para ganhar mais 4 a 5 pontos percentuais, é um retorno atrativo. Aumentamos posição esse ano no papel, em fevereiro, março, abril e mais recente em setembro/outubro. Acreditamos que pode produzir bons retornos.

Outra empresa que vemos uma capacidade de geração de valor excepcional e que está bastante descontada em Bolsa é a M.Dias Branco (MDIA3). A empresa está operando a uma margem Ebitda (Ebitda/receita líquida) de 10% a 12%, enquanto deveria fazer entre 15% e 16%. Achamos que, a partir do ano que vem, com a acomodação do preço do trigo tanto em dólar quanto em reais, a companhia vai conseguir expandir sua margem.

Adicionalmente, os papéis estão baratos, sendo negociados com um múltiplo Preço/Lucro estimado para 2021 em 13,5 vezes, ou 20% inferior em relação à mediana histórica.

Por fim, de olho em uma retomada econômica global, destaco também a ação da Iochpe-Maxion (MYPK3). Embora tenha alma brasileira, a companhia, maior produtora de rodas do mundo, tem fábricas na Europa e Estados Unidos e está crescendo agora também na Ásia, com operações na China e Índia. O Brasil representa 20% do negócio.

Caso a companhia consiga retomar seu nível de produção de 2019 entre 2021 e 2022, o papel, que está muito descontado na Bolsa, tem potencial para dobrar de tamanho. Para aqueles que querem um pouco mais de risco na carteira, mais emoção, vemos essa como uma boa alternativa.

Texto publicado na Exame Invest

Data: 05/01/2021

Por: Paula Barra

Imagem de destaque por: Paulo Whitaker/Reuters